quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ABROLHOS, NANTUCKET, PIRAPUAMA





Há um certo desconforto meu em escrever sobre o primeiro disco da TENTRIO, MELVILLE, por ter sido eu a sugerir o nome do álbum em questão - e daí o atraso de quase um ano em realizar o presente ensaio que o leitor agora tem sob as vistas. Dentro desta posição heterodoxa, há ainda o fato de que minha relativa proximidade é apenas com o guitarrista, Eduardo César - aliás, nos tangenciamos há quase década por várias vias.

Dos tempos em que o Orkut não tinha se favelizado, pré-2006, me veio ele pedir sugestão de curso de produção literária. Embora na época eu mesmo desse oficinas de produção textual (como continuo lecionando), achei o pedido uma bobagem. E pedi para ver o que ele já produzia: era já ele um contista de mão cheia, rigoroso, obstinado e profícuo.

Depois, juntos (paralelamente, melhor dizendo) formulávamos crítica ao jornalismo brasileiro e baiano, especialmente nos arredores da derrocada do carlismo em 2006. E também nesta época, Eduardo se revelou um cinéfilo devoto, com total fé na luz retroprojetada, mas ainda sem maior formação teologal - o que adquiriu rapidamente assistindo com avidez tudo quanto é western que lhe caiu nas mãos.

Sabia eu, então, durante as gravações do primeiro disco de sua banda de seu paulatino interesse pela obra de Hermann Melville (particularmente Bartleby, O Escriturário), novamente paralelo ao meu interesse por Moby Dick (que começava eu então a ler). Não podia eu deixar de ver nessa primeira lufada da Tentrio claros lampejos melvillianos: a começar pelo título de uma das canções, Cachalote (que aliás se repete no disco na única faixa cantada, Perfeita Regência, ao meu ver um defeito importante esta inserção de letra).

Mas não se tratava apenas do título desta canção (ou de outras, como Erol Gam - gam é o ritual de cumprimento entre dois navios baleeiros, como descreve o narrador a que chamamos de Ismael; ou Bairro Sujo, com seu clima de cidade portuária, ao mesmo tempo cosmopolita e decadente, mas de uma decadência de cortiço e não de aristocracia, e seu cosmopolitismo de navio negreiro, que em tudo remetem às primeiras páginas do monumental romance naval de Melville; ou Minesota Fats e sua sutil referência a extração do espermacete de cachalote). Há algo na própria sintaxe musical da Tentrio, sofisticada e desleixada, marginal e requintada, lúmpen e capitalista sem chegar a ser proletária, que é melvilleana.

Se Moby Dick é o romance americano por excelência - do self-made-man tentando dominar e vencer as forças da natureza em nome da riqueza, e conseguindo a custo de sua própria vida -, isto é, se ele é o romance do capitalismo no seu berço, ele o é como uma moeda: do lado coroa, do valor, está Ahab, mas no lado da cara, sem valor nenhum, o narrador que chama-se Ismael. De um lado, um homem a serviço do capital sem ser ele próprio dono dos meios de produção (posição que servirá de base para o General de No Coração das Trevas, de Joseph Conrad, um século depois); do outro, um sujeito que embora participe do trabalho braçal, não chega a ser um operário, é francamente um vagabundo, zomba da extração de mais-valia que sofre. Diria ainda que Melville acaba por representar o capitalismo como uma moeda furada, daquelas do Império Tang: muito no meio, ou muito na borda, se está fora do capitalismo - excluído por inclusão tanto quanto incluído por exclusão.

Nesse aspecto, essa identificação Melvilleana da Tentrio (e o paradoxo de fazer um rock instrumental que é ao mesmo tempo francamente literário sem ser poético) não é uma importação: a Bahia teve sua Nantucket, e se chamava Pirapuama. Ponta das Baleias, na Ilha de Itaparica, cujo Barão é retratado de modo bufo no épico-pícaro de João Ubaldo Ribeiro, Viva O Povo Brasileiro.

Assim, a melodia portuária e imunda, mas ao mesmo tempo com qualidades de aristocratismo barroco, da Tentrio só poderia vir de uma cidade como Salvador: dos restos, das sobras, dos lixos, mas também dos luxos; religiosa, e cheia de puteiros tão lendários e sagrados quanto suas igrejas e terreiros.

Daí que um aparente desleixo da Tentrio, particularmente em suas execuções ao vivo, é na verdade um trunfo: uma certa preguiça macunaímica, um colocar este trabalho em nível menor de atenção, que em tudo parece o "I`d rather not do it" do escriturário Bartleby.

Por outro lado, faço sinceros votos que o hard-rock instrumental da Tentrio se mantenha seguindo esta tradição de canção sem letra mas de forte matriz no cânone literário. Esta estética tem precedentes por exemplo no Genesis com Peter Gabriel, que em seu derradeiro album em tal formação faz uma trilha sonora para um conto (aliás, genial, digno de James Joyce): me refiro, claro, a The Lamb Lies Down On Broadway.

E, anteriormente, na música erudita (Richard Strauss com o Zaratrusta, Claude Debussy com Stephane Malarmé, etc.) tanto quanto no proto-metal do Led Zeppellin (que aliás também faz deferência a Hermann Melville em seu segundo album, o que a Tentrio está longe de ignorar em seu primeiro). Gostaria no entanto de vê-los debruçados na literatura marginal, embora clássica, brasileira: penso um album da Tentrio sobre Zero e Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão; ou uma suíte para a pérola redescoberta do decadentismo da primeira república, Madame Pommery; musicar o profundamente paraense e antropófago Cobra Norato, de Raul Bopp, por exemplo.

Por Lucas Jerzy Portela (ultimobaile.com)

*Baixe Melville aqui.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Bigbands 2012


























Festa de encerramento do Festival Bigbands
Dia 01/11/2012 (quinta-feira), a partir das 23h
Local: Portela Café
Ingressos: R$20
Com:
Tentrio (BA) 
Vendo 147 (BA) 
Macaco Bong (MT) 
DJ BigBross (BA)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Soterópolis (TVE Bahia) - O Rock Instrumental da Bahia, Parte 1


Primeira parte de uma reportagem do programa Soterópolis (TVE-BA) sobre o rock instrumental baiano, exibida no dia 27 de Setembro de 2012. Entre as bandas entrevistadas estão a Hessel, a Tentrio, a Vendo 147 e a Retrofoguetes

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Fuckadelia




Próximo projeto da Tentrio começa a ganhar forma. No vídeo, alguns trechos das novas ideias trabalhadas pela banda.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Salamandra Malandra / Uma Página de Loucuras



A Tentrio se enfiou na belíssima sequência inicial do nipônico "Uma Página de Loucuras" (Kurutta ippêji, 1926, de Teinoisuke Kinugasa), com "Salamandra Malandra".

"Uma Página de Loucuras" narra a triste história de um homem que se emprega como faxineiro em um manicômio para libertar a esposa, internada por causa de uma tentativa de suicídio após ter afogado o próprio filho. Por 40 anos o filme esteve perdido, e foi recuperado pelo diretor, em 1971, depois de encontrar uma cópia escondida em um vaso de flores.

Torrents: http://tinyurl.com/74o8chu ou http://tinyurl.com/73qa4os

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Grito Rock 2012




















Grito Rock 2012: Tentrio toca em Salvador, no dia 02/03 (sexta-feira), no Farol do Rio Vermelho, com Maldita (RJ), e Charlie Chaplin (BA); e em Feira de Santana, no dia 03/03 (sábado), na área externa do MAC (Museu de Arte Contemporânea), com as já confirmadas Maldita (RJ), Human, de Santa Bárbara (BA), Randômicos, de Vitória da Conquista (BA).